
A jornalista Felícia Cabrita referiu em tribunal, no passado dia 10 de Julho, que a ex-secretária de Estado da Família Teresa Costa Macedo lhe forneceu, baseada em relatórios dos anos 80, uma lista de figuras públicas implicadas no abuso sexual de menores.
Logo a senhora, sentindo-se acossada pela verdade, veio desmentir a jornalista. Sucede, porém, que estive presente no estúdio da SIC, quando Teresa Costa Macedo entregou à jornalista o papel com o nome de tais personalidades. Por isso, não tenho dúvidas em afirmar:
Teresa Costa Macedo mente!
Mas, e esta é a verdadeira questão, por que mente a senhora? A quem serve a mentira? Revisitemos o início do designado processo da Casa Pia e as declarações que a ex-secretária de Estado produziu quando pretendeu surgir como a paladina da luta contra a pedofilia. Dessas declarações resulta claramente que a senhora sempre afirmou conhecer os nomes de alguns criminosos que exibem virtudes publicamente, mas em privado abusam sexualmente de crianças:
1. Ao Expresso de 23 de Novembro de 2002, afirmou que as investigações à Casa Pia poderiam revelar a existência de uma vasta rede de pedofilia. Aparentemente contristada, lamentou na ocasião não ter conseguido, quando exerceu funções governativas, inculpar Carlos Silvino, apesar de este, como admitiu, já estar referenciado como pedófilo. Considerou igualmente que os esforços feitos pela PJ teriam esbarrado então com um muro de indiferença pelo facto de, “haver nomes muito importantes envolvidos” e afirmou, resoluta, que “Carlos (Silvino) era o principal agenciador de crianças para as pessoas ilustres deste país”.
2. Ao Diário de Notícias de 26 de Novembro de 2002, garantiu que o director da PJ, “ é que tem a obrigação de analisar tudo o que aconteceu nestes vinte anos”, porque, segundo asseverou, dispunha de todo o material para investigar e acusar. Referiu saber os nomes dos pedófilos: “Os nomes que sei são os nomes que os meninos deram” e a jornalista acrescenta, “Teresa Costa Macedo também terá visto fotografias e guardado dois relatórios”.
3. Ao Correio da Manhã de 26 de Novembro de 2002, Costa Macedo afirma-se a única pessoa com memória e garante ter em sua posse relatórios que alega ter entregue à PJ e que envolvem “dezenas de homens”. E acrescenta mesmo que, “com excepção do Bibi, de todos aqueles de quem recordo o nome, nenhum deles até hoje respondeu na Justiça”. Segundo o jornal, a ex-governante, disse estar indignada pelo facto de ser a única a recordar-se, entre os antigos titulares de cargos ministeriais, do desaparecimento de várias crianças da Casa Pia por um período de 15 dias. Crianças que posteriormente foram encontradas na casa de um diplomata, no Estoril. Macedo explica que foi a partir deste caso que chegou ao que descreve como “uma grande rede de pedofilia que envolve gente importante do nosso país” e em que Bibi era apenas o angariador de meninos. Afirmou igualmente ter recolhido fotografias em casa do diplomata onde foram encontradas as crianças, nas quais reconhecera um homem, apesar de só ter visto duas fotos, por serem “horríveis”. Por esta altura eu já tinha estado com Teresa Costa Macedo em pelo menos dois canais de televisão e ouvi-a dizer, reiteradamente, que possuía fotos que guardara num cofre cujas chaves não encontrava... E três relatórios, dos quais só entregaria dois por enquanto. De facto, quando foi ouvida na Polícia Judiciária, Teresa Costa Macedo só entregou dois relatórios. Esquecendo igualmente as fotos, nas quais, como afirmou, se reconheciam personalidades diversas.
4. Na edição de 29 de Novembro de 2002, o Jornal de Notícias informa que Costa Macedo recusa revelar os nomes das personalidades envolvidas no escândalo de pedofilia, mas garante que tem um trunfo escondido. Guarda um terceiro relatório, que diz respeito à gestão da Casa Pia e que terá, também, revelações surpreendentes. “Irei torná-lo público quando julgar conveniente”, afirmou então.
5. Em entrevista ao “Euronotícias”, publicada a 29 de Novembro de 2002, declarou surpreendentemente, estar convencida que a rede de pedofilia associada à Casa Pia, “esteve activa até há três dias”. E reafirma ter visto “duas ou três” fotografias de pessoas conhecidas, esclarecendo mesmo que “A primeira tinha um estrangeiro, a segunda duas crianças nuas, com eles completamente nus e uma terceira só com os meninos nus”.
6. No dia 3 de Janeiro de 2003, em declarações ao DN e referindo-se ao que foi encontrado em casa de Jorge Ritto, afirmou: “Na altura, apreenderam-se fotografias, dinheiros, material fotográfico. Deixaram lá a máquina fotográfica”. Desejando saber a jornalista como se referiam os miúdos aos pedófilos, respondeu que “alguns com apelido, que eram os conhecidos, principalmente da comunicação social, e os embaixadores e isso tudo, o senhor francês, o senhor do consulado... O melhor é investigarem quem é que em 1983 estava nos postos e foi imediatamente mandado retornar ao país. Encontram aí muitos diplomatas.”
Afinal, o que pretende TeresaCosta Macedo? Não lhe bastou ter gerido com inaptidão e insensibilidade a Casa Pia de Lisboa, o que significou para centenas de crianças órfãs, a fome, o abandono, os maus tratos e posteriormente a expulsão da instituição que os havia acolhido e até mesmo a morte. Não lhe bastou ter perseguido o mestre Américo? Como evidenciou José António Cerejo, num excelente artigo escrito no Público de 7 de Fevereiro de 2003, Teresa Costa Macedo foi até ao Supremo Tribunal Administrativo para castigar o mestre Américo e só comunicou à Polícia judiciária o que sabia, catorze meses depois do mestre o ter feito e – note-se bem! - cinco meses depois de as crianças terem sido encontradas em casa de Jorge Ritto." A quem protege Teresa Costa Macedo?