segunda-feira, 19 de junho de 2006

Que tristeza!

O país está revestido de bandeiras, como outrora surgiu pejado de sereias e de inscrições boçais nas traseiras dos automóveis. Esta espécie de tendência para a imitação acrítica já não é sequer o que de forma inovadora marcou o Euro 2004. Desta feita, à esperteza saloia mas bem remunerada dos que só pensam cifrões, bastou associar o patriotismo aos feitos da equipa que na Alemanha nos representa, para multiplicar por muitos os cêntimos que custa cada pedaço do símbolo pátrio.

Que sucederá se, como é previsível e natural, a selecção nacional for derrotada um destes dias? Rasga-se a bandeira? Substitui-se por outra mais ganhadora? Acorda-se para a realidade de um país submetido ao neoliberalismo por um governo cobarde, travestido de socialista?

Que país é este onde se fecham maternidades por razões economicistas e os membros – pseudo-socialistas – de um governo mentiroso se passeiam pela Alemanha, à custa do erário público, comentando de forma alarve as incidências dos jogos?

Que país é este onde morre um intelectual como Mário Ventura Henriques e a alegada TSF abre a emissão do noticiário preocupada por não saber se jogaria o Ronaldo ou o Deco? Que nação é esta adormecida para os dramas de trabalhadores despedidos aos milhares, mas disposta a guerrear por excrescências envolvendo craques de futebol?

Onde colocar as bandeiras quando o país começar a arder? Sim, porque tem ardido todos os anos, a horas certas, perante a passividade negligente e cúmplice de sucessivos governos de direita.

Não nos respondem, porque nos querem anestesiados, domados, sem consciência. Apetece fazer, neste fascismo manso e torpe em que vivemos, o que faziam os antifascistas durante a ditadura: empunhar um pau sem bandeira. Hasteando dessa forma o inconformismo dos que não se vergam. A luta continua!

2 comentários:

ja disse...

Infelizmente não é de admirar o que se tem passado, neste País, por estes tempos.
Com tristeza, vejo o renascer do salazarismo sem Salazar!!!

Sérgio Ribeiro disse...

Excelente texto, Pedro. Obrigado por ele (como pelo anterior, tão nosso).
Vou aproveitá-lo, ou parte dele - com a devida vénia, isto é, com a referência à origem - para o meu blog.
Um abraço