domingo, 19 de fevereiro de 2006

Almas cinzentas


A propósito das decisões dos senhores juízes da terceira secção do Tribunal da Relação de Lisboa, mas também do comportamento inqualificável de outro juíz desembargador, de seu nome Eurico Reis, que não tem cessado de se pronunciar contra as vítimas dos abusadores sexuais, muitos amigos ficam incrédulos e incapazes de entender o que se está a passar.

Philippe Claudel, no seu belíssimo romance Almas Cinzentas, Edições ASA, explica, de forma certeira, o posicionamento de tais personagens:

“… faziam parte da mesma classe social, a dos bem-nascidos, criados em berço de ouro, das viaturas motorizadas, dos lambris e das baixelas. Para lá dos factos e das simpatias, mais alto do que as leis ditadas pelos homens, está esta conivência e esta troca de galhardetes: “Não te metas comigo que eu pagar-te-ei na mesma moeda.” Quem pensar que um dos seus pode ser um assassino, está a admitir que ele próprio o pode ser. É confessar perante toda a gente que aqueles que falam com trejeitos de boca e nos olham do alto, como se fôssemos excrementos de galinha, que têm uma alma torpe como os outros homens, são de facto como todos os homens. E isso talvez seja o fim do mundo, o fim do seu mundo. É portanto insuportável.”

1 comentário:

Sérgio Ribeiro disse...

Bom dia, Pedro!
Junto a minha voz e indignação à tua.
Os posicionamentos de classe têm as manifestações mais diversas e algumas delas são difíceis de suportar. Mas não se trata de suportar ou não, de ter nojo (nos sentidos desta palavra), trata-se de luta! E obrigado pelo teu exemplo.
Abraços